Sunday, September 23, 2007

Reiniciando a máquina

Quem já fez um trabalho no word, ou no powerpoint, ou onde quer que seja, e nunca viu a máquina travar, de repente, sem antes ter se lembrado de salvar?
Quem não estava lá, talvez no vigésimo slide, caprichando nos detalhes, orgulhoso do trabalho feito e, de repente, a máquina trava. A primeira sensação é aquela de “não acredito”. A gente tenta mexer o mouse e nada, a flechinha estática na tela, traiçoeira, quase tirânica na sua passividade engessada. Tentamos algumas alternativas. CTRL + ALT + DEL, e vem a confirmação: “O programa não está respondendo”. Pronto, a tragédia está feita. “Perdi tudo” você exclama diante da máquina, também estático, como se ela fosse mesmo, tudo. E não se pode condenar, porque naquele instante, o seu trabalho é tudo sim. Principalmente se já for de noite e o material precisar ser entregue na manhã do dia seguinte. Ou na mesma noite ainda, enfim, casos inacreditáveis já foram registrados sobre esse assunto.
E o pior, é que não é só na tela do computador, que o seu trabalho trava, muitas vezes. O pior, é que mesmo quem nunca fez um ppt e nem sabe do que um powerpoint é capaz, também já viu alguma coisa na sua vida ser assim, travada, e sentiu a angústia que sente os que “perderam tudo”.
Ah, perder tudo... Perder tudo acontece muito e é sempre tão terrível.
Pode não ser um documento do office, mas se você está empenhado em uma relação, por exemplo, fique atenta. Ela pode não ter sido salva. Ela normalmente não está a salva, e de repente, por alguma razão desconhecida, a relação parece travar. A pessoa ali, diante de você, o que foi construído, tudo parece ser perdido, ir por água abaixo, não importa o que você faça, “o programa não está respondendo”. O que fazer? O que fazer quando tudo a ser feito é dar um “end now” e assistir o computador se desligar, assistir o outro ir embora, assistir o telefone ficar mudo, a cama ficar enorme, os sábados ficarem todos, irremediávelmente cinzentos?
Há quem se recuse a acreditar. E, ao invés de terminar mesmo o programa, fica ali, assistindo o computador travado por minutos, horas talvez. Há quem nunca termine aquilo que já está terminado e há quem passe a vida com aquele que já não está respondendo.... Passam a vida assim, mudos, engessados, a flechinha do mouse interrompida e, ao fundo, o esboço de um trabalho tão bem feito, tão cuidadosamente pensado e executado. Mas não funciona mais.
Ah, se fôssemos todos fortes e corajosos. Se fôssemos todos capazes de dar um “end now” e desligar a máquina, ver o fruto dos seus dias e noites ir embora mesmo, e deixar-se sentir a angústia e a tristeza do que não tem mais volta... Sim, porque é isso que fica. A angústia.
A angústia de desligar tudo, sabendo que não se pode fazer mais nada. É uma fatalidade. Está tudo ali, bem na sua frente paralisado, as apresentações coloridas, com a flechinha que não se move. É, é preciso reiniciar a máquina. É preciso terminar, apertar o botão de desligar. virar para trás e sair andando. Ir almoçar, ir para casa, ir tomar um banho, ir amarrar o tênis. Sabendo que o que vc fez se perdeu, que é preciso tempo para constuir de novo, e que dá trabalho, tanto trabalho que talvez você não queira mais reconstruir nada, nunca mais, nem cachorro você quer ter....
Só que, sinto muito, é preciso. Porque o “tudo” que a gente perde, nunca é tudo mesmo. O que trava é ali, aquela história. Há tantas outras, que continuam. Tantos materiais, tantos chamados, tantos trabalhos que ainda esperam a sua (boa) vontade pra serem feitos.
E não se sabe o que vai ser. A gente não consegue salvar os charts que construímos. Temos que arriscar, incrementar, colorir, redesenhar, sem saber se amanha não vai travar.... E pode ser que trave no primeiro slide, e pode ser que a gente consiga fazer até o 38º , e aí e qdo vc se prepara para entrar no 39º , vem qualquer coisa desconhecida e perversa e pronto, trava o micro.
Não importa o quanto foi perdido. Importa mesmo, é que a máquina vai ligar de novo, e um novo trabalho pode ser feito. Importa mesmo que a gente levanta, toma um café, liga tudo e volta. Ainda que seja noite adentro, sempre dá pra reconstruir o que foi perdido.

3 comments:

Mariana said...

Perfeito!
E só o café salva mesmo...

Anonymous said...

É verdade! A gente sabe que dá para recomeçar, mas que nunca mais será como antes, para o bem ou para o mal e mesmo sabendo, é impossível não travar do outro lado também pensando que não tem mais jeito!

Adorei a metáfora. Eu adoro metáforas.

Anonymous said...

Engraçado como todas as atitudes são iguais.Acho que depois de ficar mto tempo olhando para a ela sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo, agora sou do tipo que desliga logo o computador e começa tdo novamente.

Mto bom seu texto querida!

Te amo
Bruno