Wednesday, November 26, 2008
Solúvel
Você já se sentiu, um dia, dissolvida numa multidão? Já chegou num lugar onde achava que seria especial e notada e, de repente, viu mais de cem igual à você ali, competindo por um lugar ao sol -seja lá o que fosse o sol-?
Você já se sentiu tão desconfortável por ser você, que até doeu a barriga? Já? Sabe como é uma pontada fina na barriga, quase que uma angústia, por uma razão idiota como essas? Por estar presa ao seu próprio corpo, às suas vergonhas, às suas covardias, às suas mesmices?
Você sabe como é ser invisível?
Pois eu sei. Foi muito recentemente que me aconteceu. Entrei em um lugar onde eu estava dissolvida. Cheguei com um pacote na mão e um sorriso no rosto, quando notei -com tristeza - que igual à mim tinham dezenas de mulheres. Iguaizinhas. Senti-me invisível e doeu. Logo eu, que sempre quis ser invisível, nunca imaginei como é incômodo conseguir isso. Como é doloroso ser um sonrisal que desaparece na água.
Essa era eu.
Cheguei mesmo a pensar em gritar, cheguei a pensar em simular um desmaio para testar se eu estava, de fato, naquele lugar, se alguém veria, se alguém notaria uma pessoa a mais ali, caída no chão frio da sala. Não tive coragem. Sou comum demais para uma extravagância dessas...
Vai que eu não fosse invisível e causasse um alarde? Ou, pior: Vai que não?
Mantive-me quieta, calada, com o meu pacote. Desapareci mesmo estando lá, como o sonrisal na água. E ninguém nunca soube que eu estive lá.
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2 comments:
Ana, pois tudo que eu gostaria hoje era de me diluir, me dissolver e desaparecer sem deixar qualquer vestígio, sem ser notada, apontada. Sem que as pessoas dessem pela minha presença ou minha falta. Eu queria mesmo era ser um sonrisal.
Você tem escrito divinamente.
beijos
Ana,
vc conseguiu escrever exatamente o que eu sinto, menina...
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