Sunday, December 7, 2008

Mágica



Eu acredito em mágica. Em milagre menos, mas em mágica eu acredito fortemente.
Quando criança achava graça nos adultos tentando decifrar os truques de David Copperfield. “Oras, mas é mágica” eu pensava dentro de mim, inocentemente, imaginando que ele tinha um poder diferente do nosso, e essa era uma resposta muito mais simples e óbvia, do que a busca por detrás dos truques e ilusões que, segundo meus adultos, os mágicos criavam.
Passou muito tempo e, hoje, quando assisto a uma mágica, ainda hesito na certeza de que há um truque por trás. Para mim, algumas coisas muito cotidianas são mágica pura. Nascer um bebê, por exemplo, é uma mágica. Há um truque, todo mundo sabe. Os médicos sabem até melhor, mas vai negar que é mágica?
E, se há uma outra mágica nesse nosso planeta, ela se chama família.
Sempre achei estranho como esse fenômeno se dava. Sempre me senti desconfortavelmente intrigada por ver-me diante de meus irmãos, pais, primos, com um sentimento muito exclusivo, muito misterioso e claro ao mesmo tempo. Um sentimento absolutamente único. A gente diz que ama alguns amigos como irmãos e pode até ser, mas, irmãos mesmo, são os seus irmãos. Tios, aqueles desconhecidos de quem nossos pais têm histórias engraçadas, são parte da nossa história, e, demoramos a perceber, eles são mais do que meros coadjuvantes.
Na minha família, não consigo distinguir os protagonistas do resto. Todos são personagens principais, todos me causam uma sensação única, uma confiança esquisita que não tem a menor explicação e –alguns – uma timidez totalmente fora de propósito, um desconforto leve, quase que cócegas, como que uma tensão inesperada, por querer causar neles certa impressão, que nem sei bem qual é. Ou melhor, eu sei. Isso chama-se cuidado. Temos cuidado com aqueles a quem amamos muito. Temos cuidado, com aqueles que depositaram sobre nós certa expectativa e queremos, talvez até mais do que possamos perceber, que essa expectativa seja superada. Queremos que a criança que fomos um dia faça jus a esse adulto o qual nos tornamos, queremos agradar, queremos impressionar, talvez, queremos ser merecedores de ter alguém que testemunha nossa cadência nessa vida, desde tanto, tanto tempo.
Nossa família é nosso espelho e, não tem jeito, queremos estar bem diante de um espelho. Arrumamos o cabelo, ajeitamos a blusa, endireitamos o tronco porque, o que queremos ver nos espelho é o que há de melhor em nós. Queremos que saibam quem nos tornamos, e que fizemos o melhor que pudemos e que, sim, somos tão espertos agora, como éramos aos 5 anos, quando eles faziam de tudo para nos agradar.
Essa mágica que é a família sempre me intrigou, mas, no último final de semana, pela primeira vez, senti-me menos sozinha nesse mistério de que somos feitos. Senti-me amparada ao ver-me uma espectadora de uma família que não era a minha, mas que me causava tanta ternura e afeto que, de repente, vi a mágica se fazendo ali, diante dos meus olhos. Assisti, como se estivesse numa poltrona de cinema, cada truque, cada passe invisível dessa mágica que se dá nas relações humanas. A família. Ah família, que mágica estranha essa que herdamos. Nós, pobres diabos, de repente, somos deuses. Nós, animais irracionais, de repente somos uma enorme nuvem de amor diante daqueles com quem temos alguma intimidade, alguma afinidade, algum convívio especial.... David Copperfield nunca faria nada melhor...

2 comments:

Zezel said...

Lindo seu texto.
Pra mim a mágica também acontece assim. Adoro minha família. E a dos outros também, quando percebo a mágica entre eles.
Para mim, é meu porto seguro.
Beijo

Amor amor said...
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