Mal posso acreditar que já faz 5 anos que escrevi isso. Eu existia, há 5 anos?
14/12/2003
Tenho diferenças entre mim e mim mesma...
Meu pé esquerdo é mais esparramado que o direito,
Meu peito direito é menor do que o esquerdo,
Já entre as mãos há diferentes habilidades:
Com a esquerda eu escrevo, com a direita arremesso.
A sombrancelha direita tem mais pelo, a esquerda, porém, é mais longa.
Quando sorrio nasce uma covinha do lado esquerdo, enquanto o outro permanece inteiro e cheio.
Quando choro é só um olho que derrama lágrimas. O outro fica fingindo que chora enquanto vê o mundo claro.
Quando sinto cheiro é pelo lado direito, que o esquerdo anda sempre entupido.
Tenho diferenças entre mim e mim mesma.
Como se aqui morassem duas,
A da esquerda é mais gorda, a da direita mais seca,
Um lado com muitos pelos, outro, com muitas falhas,
Uma parte esparramada a outra espremida.
Alguém que respira, alguém que sufoca.
Ninguém sabe, ninguém nota que as duas, teimosas, crescem para lados diferentes, enxergam as coisas de forma distintas e sofrem ou alegram-se sozinhas, cada uma do seu lado, cada uma do seu jeito.
As duas fazem as diferenças que tenho de mim, comigo mesma.
Por culpa delas sou assim, contraditória. Grande e pequena, cheia e vazia.
Por culpa delas não sou nada, sou tudo, muito e pouco, céu e inferno, barulho e silêncio.
Quem, com pés diferentes, não tropeça?
Quem com mãos opostas, consegue segurar firme?
Nem eu, que conheço as duas e traço o caminho, sigo o rumo, passo a vida tentando apresentá-las uma a outra, suas metades, esperando que digam: “Olá, muito prazer, somos vizinhas, quer entrar?”
Mas não. Ora sou uma, ora outra. Ora acho isso, ora isso é uma tontice. Ora avanço, ora recuo. Não sou sempre eu. Sou eu e, do outro lado, aqui, em algum lugar, eu mesma.
2 comments:
Então seus textos já eram tão bons há 5 anos(ou mais)? Estas duas podem até ser teimosas, mas se entendem bem na hora de colocar palavras juntinhas.
Olha só que beleza de texto seus leitores estavam perdendo. Olha, acho a Martha Medeiros demais. Mas, gostaria de mais uma página na Revista O Globo, e tinha que ser sua. Poderiam tirar os horóscopos, a propagandas desnecessárias, e colocar ali as palavras que realmente alimentariam a mente do leitor. Aquelas que nos provocam um sorriso qdo são ruminadas. Num dia e numa hora qualquer, sem esperar, a gente lembra e sorri, pq estas são palavras que ficam, e nunca ocupam espaço demais a ponto de não sobrar para o próximo texto!
Parabéns mais uma vez!!!
Beijinhos doces cristalizados, e um excelente fim de semana!!! ;o*
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