Thursday, April 9, 2009

O Computador >> Ana Coutinho

Querendo ser macaca, na crônica do dia. Hoje.

Eu devia ter uns 11 anos, não mais do que isso. Era década de 80 e meu cunhado, que acabara de voltar de uma viagem de trabalho à Alemanha, relatava a todos os familiares, na mesa de jantar: “Lá, todo mundo tem um computador. Sabe, um desses, pequenos??” as pessoas se entreolhavam, incrédulas: “Como assim? Computador, desses que a gente vê nos escritórios, em uma sala longe?”. Isso - Ele respondia com uma empolgação contagiante – “Isso, cada um tem uma daqueles nas suas mesas. Cada um tem um, todo mundo tem um computador, entende??”.
As pessoas ficaram impressionadas enquanto ele continuava, prevendo que, um dia, isso aconteceria no Brasil. Cada um teria o seu próprio computador, as pessoas sentariam em mesas longas e o papel iria acabar. Eu, calada, comendo ovo frito, pensava para que serviria isso. Um troço tão pesado, porque não dividir? Para mim, era a mesma coisa que cada um ter a sua televisão, imagine o transtorno disso... Mesas longas com as televisões enfileiradas, para que cada um pudesse ver o seu canal predileto, sentados em filas também, mãos baixas, olhares fixos.
Acontece que eu estava errada e ele certo. Com exceção do término do papel, as previsões dele se concretizaram muito mais rápido do que qualquer um poderia imaginar. Quando, 10 anos depois, eu entrei no mercado de trabalho, já tinha o meu próprio computador, e era apenas uma estagiária. Os chefes tinham notebooks, as máquinas incríveis que olhávamos meio de rabo de olho, porque queríamos fingir que era natural. Não era. Aliás, até hoje, não acho natural que cada um tenha o seu computador. Não acho nada, nada natural aquele escritório lotado, as mulheres fantasiadas de saltos e os homens fantasiados de gravata. Se tinha um traje obrigatório, porque não pijamas? Ou, se era pra ser fantasia, porque não e piratas e princesas? Ou, muito melhor, bruxas.
Hoje, quando assisto à vida nos escritórios, ao stress, às mentiras, às aparências, sempre penso que é ridículo nos enquadramos na raça animal. Que animal?? Que animal, por mais estúpido que seja, iria chorar escondido numa casinha apertada do banheiro? Que animal, iria lotar a cara de pó pra parecer mais jovem? Qual deles iria querer a caneta mais chique, ou iria dependurar gravata nos seus pescoços, todo santo dia, sem que fossem obrigados a isso? Eles são mais inteligentes do que nós. Nunca aceitariam esses faróis imbecis que a cidade insiste em colocar para piorar ainda mais o trânsito. Sempre que vejo um novo farol, com a típica fila de carros a espera da luz verde, desejo ser um gorila, pular sobre todos os carros da frente e, escalando o poste do farol, arrancar a luz vermelha com minhas grossas patas e babar em todo mundo que estiver abaixo... Normalmente, quando chego nessa parte do pensamento, o farol abre e ando um pucadinho. Bem pouquinho mesmo. Apenas o suficiente para desviar o pensamento e lembrar que, talvez, tenhamos até certa grandeza. Quem sabe, sejamos mesmo superiores em algumas coisas até porque, nenhum animal, nunca, suportaria buzina e coca-cola e ar-condicionado por tanto tempo, como só nós - os inteligentes - somos capazes de fazer.

1 comment:

Anonymous said...

OI Kika, vc sempre ótima..... eu que peno tanto p\ usar essa máquina chamada computador, e literalmente a faço com _ _ _ _ dor, preciso que vc me refresque algumas coisinhas sobre o Blog....se vc puder me mande seu email , o meu é mcelia@terra.com.br
Saudades Célia