Friday, March 14, 2008

Queridas amigas

Quando eu estava pra casar, há 2 anos atrás, escrevi essa carta para as minhas amigas. Hoje, por alguma razão, ela caiu em mim, de novo. E achei absolutamente atual...

Meninas,

Então é isso, vou casar.
Cada vez que penso nisso, me gela a barriga. Muitas vezes me surpreendo, tomo um susto enquanto bebo um toddy ou no meio do trânsito pelo simples pensamento: “eu vou casar”.
É um misto de felicidade e espanto, pela alegria de ter encontrado um amor de paz e por tudo o que já passei antes, quando isso parecia tão distante de mim.
Penso, surpreendida, no quanto já chorei e sofri por trastes imprestáveis a quem eu dediquei o meu amor. Muitas vezes lembro, com emoção, o quanto praguejei porque o amor não tinha vindo pra mim, porque eu não nascera pra amar, porque eu seria sempre uma solitária chorosa, como as heroínas dos filmes de amor, antes do fim, claro.
Que ridículo me soa isso, hoje. Inúmeras vezes fui ridícula e tola, porque não confiava um pouco mais na vida, um pouco mais em Deus, nenhum um pouquinho mais em mim mesma.
Quando penso nisso me vem sempre à cabeça uma amiga. Uma de vocês, que está lendo isso agora. Uma entre tantas que a vida me deu, como um dos melhores presentes que eu poderia receber.
Você, minha amiga que brincava comigo quando criança, que encostava no verde quando falávamos alguma coisa juntas, que fazia xixi na calça de tanto rir, por qualquer coisa sem graça que alguém dizia, que torrava no sol falando bobagens e rindo alto.
Você, minha amiga querida, que me emprestou roupa quando eu me sentia horrorosa, que me ensinou a me depilar, ou você minha amiga querida que, quando eu precisei, comprou água oxigenada pra deixar meus pêlos dos braços loiros... Que homem teria tanta sorte? Por isso eles são peludos e desajeitados desse jeito....
Ah, e a minha amiga que chorou comigo quando perdeu uma namorado mega traste, e que riu disso depois. Ou as amigas da faculdade... Aquela amiga que me passou cola, que pediu para o professor me dar 0,5 ponto, com tamanha força, como se fosse pra ela própria. Aquela amiga que me emprestava o material, que punha meu nome no trabalho mesmo que eu não tivesse feito nada, simplesmente porque era uma amiga. Quem não teve essas amigas? A amiga com quem eu planejava fazer uma dupla sertaneja, ou abrir um consultório, ou uma escola, e nada deu certo... A amiga com quem eu nunca planejei nada e que me indicou no trabalho dela, e com quem eu pude trabalhar junto, falar mal do chefe junto, chegar atrasada junto, ou conseguir que ela batesse o cartão pra mim, porque eu nunca conseguia chegar no horário...
E as amigas da internet. Aquela que ninguém me apresentou, que a vida me trouxe por meio de uma máquina fria, talvez porque eu tenha feito algo bom, em algum tempo da minha existência. Eu conheci primeiro os escritos dela e me vi a pessoa mais sortuda do mundo por tê-la minha amiga querida e sábia, a melhor conselheira entre todas.
As amigas da igreja, que todo mundo acha nerd e carola, mas elas, como eu, nem ligam e me ensinam a ser uma pessoa mais justa, melhor, e mais feliz.
As amigas que me foram leais, aquelas com as quais eu não fui sempre leal, as amigas que eu magoei, as que me magoaram, mas que depois passou.
Eu me emociono quando penso na sorte que tive, de ter essas amigas...
As grandes amigas de infância e as novas, de trabalho. Ah, as minhas amigas de trabalho. A minha amiga que me ajudava no excel, ficava até mais tarde pra me ensinar a fazer o meu trabalho e deixava o dela pra depois. Aquela que era chefe, mas que foi sempre tão compreensiva e amiga, que deixou de ser chefe e permaneceu sempre assim, uma grande amiga. Aquela que aturou o meu mau-humor, as minhas TPMs, aquela com quem eu perdia a hora no almoço e aquela que fazia um cachorro quente ao meio dia de quarta feira, ser o programa mais divertido da semana...
Que mulher não tem aquela amiga?
Aquela, mais que querida, que te maquiou o rosto pra você ficar linda, aquela que enxugou mil lágrimas suas e que teve paciência de Jó pra escutar você falar sobre o mesmo assunto, por dias e dias a fio, sem reclamar... A amiga que te atende de madrugada, que te acalma, que te acolhe.
A amiga que te arruma aquele buscopan que você tanto precisa, a que empresta o celular quando você está sem crédito, a amiga que te empresta o ombro e a força dela, quando você se sente cansada e fraca.
E tem a amiga do bom papo, que vai no cinema com você, depois janta no shopping, depois faz compras, depois, quando vai embora, você vê que não falou tudo o que precisava e dá mais uma ligadinha pra ela... Aquela com quem, horas filosofando sobre a vida, nunca bastam...
As amigas que nos indicam um médico, uma vidente, uma psicóloga, uma outra amiga, ou aquela lojinha super boa e barata do outro lado da cidade.
As que dividiram com você seus momentos mais especiais, as que casaram e as que me contaram, radiantes ou não, que estavam grávidas. As amigas que compartilharam suas conquistas e suas tristezas, as que contaram detalhes de uma vida de casada, ou de uma gravidez que só uma amiga conta, sem nenhuma vergonha.
Porque as amigas não costumam ter vergonha umas das outras. Mesmo que eu passe séculos sem falar com uma amiga, porque sou muito desleixada tantas vezes, mesmo assim, quando reencontro uma de vocês, sinto apenas alegria, e nunca medo ou vergonha.
Sim, eu não tenho vergonha de vocês minhas amigas. Não tenho vergonha nenhuma de dizer quando tenho medo, quando não sei qual a capital de um país óbvio, quando não consigo multiplicar uma conta simples, quando começo a tremer de nervoso, ou quando minhas bochechas ficam vermelhas porque estou com raiva. Não tenho vergonha nenhuma de cantar Fabio Junior no último volume, ou de perguntar quem matou a Bia Falcão, ou de dizer que votei naquele Big Brother. Nem por um segundo tento me esconder de vocês. Porque com as minhas amigas não tenho vergonha de ser quem eu sou, mesmo que isso soe ridículo para os desconhecidos.
Vocês, minhas amigas, me fizeram ser hoje quem eu sou. Me ajudaram a ter coragem de assumir esse compromisso, de me casar, vocês me deram as dúvidas e as certezas que me trouxeram até aqui.
Por isso, sou imensamente grata a cada uma de vocês. E imensamente feliz de tê-las ao meu lado nesse momento.
Porque, quando tocar a música da noiva e for a minha vez de entrar, se minha mão estiver tremendo e o buquê não parar quieto, eu vou procurar vocês com os olhos. Porque sempre que eu tive nervosa ou simplesmente com vontade de chorar, vocês minhas amigas estiveram ao alcance dos meus olhos, e eu quero muito que isso permaneça sempre.
Quero que sejamos amigas até a velhice. Que vocês tenham maridos legais que sejam amigos do meu marido, e filhos lindos que paquerem as minhas filhas, enfim... Ou, se nada disso acontecer, que vocês continuem simplesmente sendo vocês. Porque isso é o que eu preciso, que minhas amigas sejam sempre, essas amigas que vocês tem sido, todos os dias, até hoje.

Um beijo, com todo meu carinho,

Kika

4 comments:

Anonymous said...

Que lindo amiga!!!
Eu também tô sentindo este frio na barriga!!!
E vejo que ter amigas é tão bom...
Obrigada pela sua amizade:-)
Beijos,
Mari

Anonymous said...

Lindo, lindo, lindo texto! Também vou me casar, falta pouco agora, e a sensação descrita por vc é exatamente a minha: um misto de medo e alegria incomparáveis! :)))

Beijinhos, moça!

Anonymous said...

lindo, Ana, lindo!

"Viver os sonhos
Tudo que acontecer
Fazer amigos
Mas amigos prá valer..."

beijos

Anonymous said...

E quando não se tem amigas como essas? Eu tenho 26 anos, e não sei o q é nada disso. E sinto falta de ter amigas.E me sinto triste por ser assim, mas fico feliz por saber que existe pessoas no mundo que sabem o q é isso e que aproveitam essas coisas da melhor maneira possível...
Te desejo uma Boa Páscoa e que Jesus abençoe seu lar.

Beijos