Quando eu era criança, também tinha que fazer essa redação, a cada janeiro. Todo mundo odiava, eu lembro. E eu, que sempre adorei redações, amava. Nunca tinha nada demais pra contar porque não fiz grandes viagens, mas sempre saia lá um textinho, bobinho sem nenhum grande passeio. As vezes contava de uma ida até a banca de jornal, ou até a padaria, pequenas saídas que me alegravam os dias sem que eu sentisse falta de mais nada.
Isso faz anos,eu já engordei, já envelheci, já amadureci, mas, agora, dia desses percebi que tudo se repetiu, como se eu tivesse 9 anos?
Saí de férias, não viajei, não corri a São Silvestre, não fiz nada de especial, mas seria capaz de encher um caderno, relatando minhas pequenas alegrias do dia a dia.
Nada, nada interessante, mas coisas absolutamente imperdíveis como acordar as 10 da manhã e ficar lendo na cama até sentir fome...sem saber se serão 2 da tarde, ou dez da noite, enfim...
Momentos singelos e tolos como almoçar pastel com meus sobrinhos, andar de bicicleta alugada no villa-lobos, descobrir que o shopping as 10:15 da manhã e só meu, testar uma receita nova e ver que dá certo, e testar outra e jogar tudo no lixo. Achar que estou um caco e me depilar, clarear meus pêlos, cortar a minha franja, passar hidrante todos os dias, fazer pé e mão no dia que tem desconto e achar que foi um baita up-grade comigo mesma. Fora as descobertas caseiras; eu mal sabia onde morava e, agora, em 15 dias, descobri que a máquina de lavar estava suja, que a tábua de passar roupa não tem mais capa, que a geladeira precisa ser descongelada, que aquela assadeira que eu achei que tivesem roubado estava no fundo do armário, e que aquele brinco que eu amava tanto estava no guarda-roupa, atrás da regata amarela que eu nem lembrava que tinha...
Quanto se perde da vida com o trabalho? Quanto se perde da vida com viagens longas, lindas e cansativas? Eu sei que muito se ganha também, mas, talvez eu esteja ficando velha pra me sentir tão bem adaptada a uma rotina tão vazia e relaxante como a que tive nesses últimos dias.
Talvez tenha sido tomada pelo espírito de uma dona de casa, dessas que desapareceram na história do mundo, e ficaram só nas histórias da família, dos filhos e netos que ela tenha deixado... Essa mulher que teve uma vida boba, simples, cheia de rotina e pequenezas, uma vida quase ordinária pode-se dizer... Essa mulher se apossou de mim nesses dias e me mostrou o quanto é bom ser invisível vez ou outra, e não fazer diferença pra quase ninguém no mundo. Nada de ter 20, 30, 100 funcionários ou 12 chefes pra se preocupar. Fui absolutamente desimportante esses dias, fiz diferença pra 3 ou 4 pessoas, no máximo. No entanto, as 3 ou 4 mais fofas, alegres e mais valiosas da minha vida.
Ok, talvez eu esteja ficando velha demais, tola demais, gorda demais enfim.. Mas, a olhar para as palavras aí de cima, uma coisa é certa: Ainda gosto de fazer uma longa redação sobre as minhas férias...
2 comments:
Lindona,
pra variar vc e suas redações engraças e bem escritas.
Bjs
Te amo
Bruno
É uma figura mesmo...e to de pleno acordo...sou esta ai que quer saber se a tabua ainda tem capa, e eu descobri que nem tabua eu tenho...rs É bom se curtir né?!
E voltar ao mundo real tendo mais noção do mundinho proprio..
beijo querida...escreve mais!
Mari
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